Em primeiro lugar, aplausos para o CIRCUS (Circuito de Interação de Redes Sociais) e de todas as pessoas que dedicaram seu tempo e suor para realizar a II Mostra o Lixo. Como assisense e atriz do Grupo Pombas Urbanas fico especialmente grata a esta realização, pois sei que tal Mostra só pode ser fruto de uma trabalhosa semeadura de pessoas diariamente envolvidas com a Arte e a Cultura. Há alguns anos já tínhamos notícia de um trabalho interessante que estava acontecendo na cidade de Assis. Algumas edições da Mostra Lino Rojas organizada pelo MTR SP – Movimento de Teatro de Rua de São Paulo trouxeram artistas e articuladores culturais de Assis do grupo de Teatro Fabrincantes e Matulão que apresentou o espetáculo “Histórias da Maçã” no bairro Cidade Tiradentes. É neste extremo leste da periferia de São Paulo, num dos bairros mais populosos e estigmatizados pela violência da cidade, que desde 2004 desenvolvemos o Centro Cultural Arte em Construção um espaço de arte comunitária voltado a formação, a difusão da arte e ao desenvolvimento local. Foi nosso primeiro contato, numa tarde ensolarada onde a comunidade se divertiu com a linguagem cômica e popular do grupo Fabrincantes. Durante a Mostra, também foi distribuído o jornal “Ruarada” (uma publicação dos grupos de teatro de rua de Assis), fortalecendo o desejo de trocar experiências sobre teatro de rua e também o desejo de nos apresentarmos na cidade de Assis.
Mas como sempre, aos realizarmos o “imaginado” somos surpreendidos. A apresentação do espetáculo “Era Uma Vez um Rei” na Praça da Vila Operária foi um dos grandes momentos da viagem. Naquela manhã de sábado, fomos recebidos por um público numeroso, participativo que foi ainda mais estimado pela presença das mulheres catadoras da COOCASSIS (A Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de Assis e Região). Igualmente especial foi conhecer e trocar experiências com os organizadores da II Mostra o Lixo, os artistas e articuladores culturais que promovem e mantém o Ponto de Cultura Galpão Cultural, a CIRCUS e tantas outras pessoas da cidade que estão envolvidas impulsionando projetos culturais.
Sem dúvida, saímos revigorados diante desta bela oportunidade de fortalecer vínculos de parceria e amizade pelo fazer cultural comprometido com a vida e a cidade. Tendo como ponto de partida nossa experiência de grupo, de criar e manter um espaço cultural comunitário no bairro Cidade Tiradentes há 10 anos, pudemos nos ver e reconhecer nas paredes do Galpão Cultural, as paredes do galpão que abriga nosso Centro Cultural Arte em Construção. Assim como nos grafites, nos instrumentos musicais, tecidos, na comida servida, nas conversas alegres, no vinho compartilhado, pudemos nos sentir muito bem acolhidos e, ao mesmo tempo, em casa! Vida Longa à Circus! Vida Longa e transformadora à Mostra o Lixo! Que esta iniciativa crie raízes e dê muitos frutos!
… Breve depoimento de uma atriz assisense!
O texto poderia terminar por aqui. Sem dúvida, teria cumprido sua missão. Mas não posso deixar de falar que a viagem, a II Mostra o Lixo, e todo o contexto vivido na cidade de Assis teve um sentido mais que especial para mim. Explico: sou pessoa ali nascida – nessa região da cana-de-açúcar e de usina de álcool, planalto e terra vermelha, regada à cerveja e churrasco e que apresenta o mais belo por do sol que já vi. Mudei-me para São Paulo e, pouco tempo depois, em 1994 conheci o Grupo Pombas Urbanas a partir de uma oficina de iniciação ao teatro ministrada por Lino Rojas. Foi amor à primeira vista. O teatro representou uma acolhida no mundo, um tempo e um espaço para se conhecer e conhecer o outro, além da intrigante possibilidade de compreender o mundo, interagir com o público, expressar e provocar ideias. E agora, assisense que sou, redescubro a cidade de Assis, como atriz do Grupo Pombas Urbanas participando da II Mostra o Lixo. Parece que, de alguns anos para cá, o silêncio quente e o ar parado deste interior está sendo agitado por artistas, provocadores culturais e sociais que se articulam em torno de projetos, espaços e iniciativas que podem de fato mudar a história da cidade. Afinal de contas, a cidade está viva! Suas crianças brincam e estão sendo educadas hoje, seus moradores trabalham e famílias buscam um presente e um futuro melhor a cada dia. Que a arte e cultura possam de fato fazer parte da vida de cada morador, abrindo horizontes e construindo uma cidade mais justa e humana! Evoé!